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quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Península de Yucatán: muito além de Cancún

Eu adoro Cancún, apesar de nunca ter pisado nas suas praias de areia branca. Ou amarela. Ou roxa com estrelas verdes. Quem sabe? Como eu disse, nunca pisei.
É que estou apaixonado pelo aeroporto de Cancún. Não porque esse é um aeroporto que merece ser a oitava maravilha do mundo, mas por sua localização e seus voos baratos e diretos de muitos lugares, e porque Cancún está situada no lugar ideal para explorar a parte mexicana da península de Yucatán, formada por três Estados mexicanos e 160 mil quilômetros quadrados – grande, mas com estradas decentes e lotadas de sítios arqueológicos, cidades históricas e cochinita pibil (prato tradicional da região que nada mais é do que porco marinado em suco de laranja-azeda e urucum, assado lentamente enrolado em uma folha de bananeira).

Tenho certeza de que a cidade de Cancún é ótima para os que gostam de praia e margaritas servidas na sua mesa de praia e, pelo que sei, a cidade tem bons restaurantes, algumas ruínas maias e até um ótimo museu. E com certeza é um sucesso absoluto: Cancún é uma invenção turística dos anos 70 – a cidade nem existia antes e não aparece nos mapas dos anos 60. Incrível. Mas praia não é minha praia, e as cidades lindas e ruínas sem fim que ficam perto são irresistíveis

Cancún é mais que belas praias: o local tem bons restaurantes, ruínas maias e até um ótimo museu







Os três Estados, Quintana Roo, Yucatán e Campeche, formam quase um país inteiro – maior do que Portugal, Grécia ou Cuba – e (junto com a Guatemala) é o centro da antiga e gloriosa cultura maia. Se não confia em mim, que fui uma vez só, pode confiar na Unesco, que classificou cinco das suas atrações – três arqueológicas, uma cidade histórica e uma reserva natural – como Patrimônios da Humanidade.
Em uma semana dá para visitar as cinco com um carro alugado no aeroporto de Cancún, e depois ficar mais alguns dias num resort da cidade. A duas horas do aeroporto estão as ruínas de Chichén Itzá, a antiga cidade construída ao longo de séculos pelos maias e toltecas e, de longe, a mais famosa atração da península. Mas cuidado: é insuportável entre as 10h e as 15h, e não só pelo calor. É porque sofre dessa praga de todos os sítios megaturísticos: turistas. Os ônibus começam a chegar dos resorts de Cancún e não param, e grupos enormes (inclusive muitos americanos tão vermelhos que parecem que nem sabem o que é protetor solar) lotam os templos construídos pelos povos maia e tolteca.



Mais intoleráveis que os turistas, claro, são os vendedores espertos de souvenirs bregas. Quando eu fui para lá, em 2005, para escrever uma matéria sobre a Unesco, conheci um vendedor de souvenirs – Ermenegildo Kahum Kem – que tinha aprendido a dizer “Não vai levar nada para a sogra?” em cinco idiomas.
A solução é fácil: chegar logo no começo do dia – às 8h – ou muito melhor, entre 14h e 15h, quando os ônibus já começam a ir embora. A diferença é incrível. O lugar volta a ser mágico, e um pouco antes das 17h, você estará quase sozinho e pode explorar as ruínas como se você fosse dono do local. E para os fotógrafos, a luz ótima do final da tarde significa que você vai tirar fotos muito melhores do que os camarões americanos que visitaram a antiga cidade suando no meio-dia.

Daí é só chegar à cidade Mérida, capital do Estado de Yucatán, localizada a 120 quilômetros de distância de Chichén Itzá. Apesar de não ser considerada Patrimônio da Humanidade, Mérida é linda e tem um calendário sempre lotado de eventos culturais e restaurantes que servem  a comida tradicional do Estado. Perto da cidade – a 80 quilômetros – estão as ruínas de Uxmal, uma cidade fundada no século 6 (ou antes, não se sabe precisamente) pelos maias. Como Chichén Itzá, é classificada como Patrimônio da Humanidade, mas não fica tão lotada, assim, que dá para conhecer a qualquer hora, e ainda dá para esticar a visita para outras ruínas da região e para as Grutas de Loltún.

O próximo destino é Campeche, meu lugar favorito da península: uma cidade que foi totalmente restaurada e transformada para se candidatar para o status de Patrimônio da Humanidade em 1999. O resultado: um centro encantador, com casas antigas pintadas em tons pastel e uma muralha maravilhosa que foi construída no final do século 17 para proteger a cidade de colonização espanhola contra os ataques constantes dos piratas. Apesar de ser capital do Estado de mesmo nome, o lugar fica bem tranquilo e sem muitos turistas; em outras palavras: é um lugar perfeito para explorar e conhecer as atrações, que são o orgulho da cidade.



Agora, a parte mais chata do tour da península: os aproximadamente 300 quilômetros entre Campeche e a próxima parada, a reserva natural e as ruínas de Calakmul, que virou patrimônio só em 2002. Mas a localização isolada tem uma vantagem também: o lugar é pouco visitado. Calakmul foi uma cidade muito importante no passado: ocupou 70 quilômetros quadrados, teve até 60 mil habitantes e existiu por 12 séculos. Incrivelmente, só começou a ser escavada por arqueólogos em 1985. Está dentro de uma “reserva biosférica”, por isso não fique surpreso se, quando você subir os templos, algum macaco te acompanhar pelo caminho (tem onças também, mas elas são menos sociais). Calakmul fica longe de outras cidades, mas se não quiser chegar e sair no mesmo dia, pode ficar dentro da reserva e perto das ruínas no lindo Hotel Puerta Calakmul (ou, opção mais barata: pode acampar).

O próximo patrimônio no caminho de volta para Cancún é a Reserva Biosférica Sian Ka’an. Fica na costa, ao Sul da Riviera Maia, mas é muito mais isolada e tranquila, com estradas de terra e praias desertas (ou pelo menos mais vazias do que as de Cancún). Dentro da reserva dá para pescar, observar 300 espécies de aves, e até fazer um tour de caiaque.
Da cidadezinha de Punta Allen (onde fica a hospedagem da reserva) são só 3 horas para voltar até Cancún. E, se tiver tempo, descansar na praia mais alguns dias. Ou, se não tiver, voltar diretamente para meu lugar favorito, o aeroporto internacional


Autor: Seth Kugel Tags: , ,

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